Resumo
da obra “O papel do indivíduo na
História”, de Plekhanov.
O
livro é dividido em três partes e tem como finalidade explicar o papel do
indivíduo no decorrer da História e quais as contribuições que ele forneceu
para que esta fosse feita, escrita. Não me refiro aqui aos registros, mas as
ações e pessoas registradas.
Os dois primeiros capítulos se
encaminham para a explicação ou tentativa de exposição de um panorama do que se
compreendia como Filosofia da História, com a apresentação de diversos escritores
da época e as divergências e congruências entre eles.
O
autor pertence à primeira geração dos marxistas russos e foi o principal
propagandista do materialismo histórico e dialético (cânon da proposta
histórica de Karl Marx, onde a consciência do homem provém das suas relações de
produção). Enfrentou a corrente economicista, que limitava a tarefa das classes
operárias à luta econômica por aumento de salários e melhorias das condições de
trabalho.
Quanta
ironia vê-se na vida deste autor, pois aquele quem melhor esclareceu o papel do
indivíduo nas transformações históricas, não apoiou a maior transformação de
sua época.
Ele
foi, ainda, aquele que fez a melhor exposição do marxismo e do materialismo
histórico. O que há de melhor na literatura internacional acerca deste assunto
é feita por ele, como atestam vários outros autores, como Lennin.
Qual
é então o papel do indivíduo na História? A História decorre em função de leis
objetivas, mas são os homens que fazem a História, fazem-na avançar ou
atrasam-na consideravelmente na medida em que atuam ou não em função dessas
leis. Sem os indivíduos não há revolução, mudança. E, de uma maneira ou de
outra, todos os indivíduos participam do desenvolvimento histórico da
humanidade.
O
autor, segundo a defesa marxista que prega o modo de produção econômica da
existência dos homens como determinante da sua organização em sociedade,
convenciona-se ao socialismo como uma possibilidade histórica e objetiva na
medida em que os revolucionários o assumem com vontade e ação consciente.
I – Da filosofia da História
A História é movimento e cada
período tem sua própria filosofia da História, que é a reflexão filosófica
sobre um determinado momento passado. Durante os séculos surgiram alguns tipos
de concepções da à cerca dessa reflexão, dentre elas:
A) A concepção teológica da História: se
detêm naquilo que o homem vê na natureza; marcada pelo animismo; é a explicação
da História pela ação direta ou indireta de uma divindade. Seus maiores
influentes, Santo Agostinho e Bouset, acreditam que, tudo só acontece com a
permissão de Deus e, as revoluções dos ímpios são reguladas pela providência,
respectivamente. Ela perde credito
porque a ciência ganha espaço. Porem, a verdadeira ciência consiste em estudar
as causas das mudanças procuradas em cada época. Grandes necessidades de
estudar as causas partículas dos acontecimentos, eis o papel das ciências.
B) A concepção idealista da História:
consiste em explicar esta evolução histórica pela evolução dos costumes e das
ideias ou opiniões ou da opinião. A opinião governa o mundo e é a causa
fundamental, mais profunda do movimento histórico. Seu grande representante é
Voltaire. Ele se atém ao histórico e a sua filosofia da história é uma
interpretação científica da História. Holbach e Helvitus, ambos materialistas,
acreditavam que a opinião governava o mundo e que sua evolução explica toda a
evolução histórica e que a ignorância é a causa do mal moral e político. A
ignorância é uma opinião errônea. Essa concepção é verdadeira e inválida
simultaneamente. Verdadeira porque há uma parte de verdade, pois a opinião tem
grande ifluência sobre os homens. Locke contribui com a negação da existência
das ideias inatas, afirmando que as ideias e os princípios dos homens provêm da
experiência. Quando os homens condenam determinada ação é porque ela os
prejudica. Quando a enaltecem, é porque lhe é útil. Não existem ideias inatas
no espírito dos homens; é a experiência que determina as ideias especulativas e
é o interesse social que determina as ideias práticas.
C) Pós Revolução Francesa:
aconteceu a destruição do antigo regime e o varrimento dos seus vestígios,
sobrando a lassidão e o ceticismo, descredito de todas as doutrinas e do
próprio indivíduo.
D) A Filosofia da História de Saint-Simon: ela
se propõe em estudar os fatos relativos à vida passada da humanidade para
descobrir as leis do progresso e poder prever o futuro compreendendo o que fora
vivido. Aqui, o interesse histórico leva a concepção histórica, o interesse dos
grandes elementos constitutivos da sociedade.
E) Augustin Thierry e de Mignet: sempre
o povo e os cidadãos – a grande massa -, são a matéria para o pensamento de um
só homem, o grande homem, o herói. A massa age segundo seus interesses. O
interesse é a fonte, o móvel de toda criação social. É fácil compreender, pois,
que, quando uma instituição se opõe ao interesse da massa, esta começa a lutar
contra tal instituição. E, como uma instituição prejudicial à massa do povo é
amiúde útil à classe privilegiada. A luta das classes entre homens e interesses
opostos desempenha um grande papel na filosofia da História. Com Mignet, os
interesses decidem o movimento social. Algo era necessário antes de se tornar
fato, e foi depois um fato, deixando de ser necessário, terminando por deixar
de ser um fato. Não só os homens que conduzem as coisas são as coisas que
conduzem os homens. A força que domina se apodera sempre das instituições.
Pois, antes de se transformarem em causa, as instituições são efeito; a
sociedade as produz antes de ser modificada por elas; e, em lugar de buscar no
sistema ou nas formas de governo qual era o estado do povo, é necessário
examinar primeiro o estado do povo para saber qual devia ser ou qual pode ser o
governo.
F) A filosofia histórica de Schelling: aqui
aparece o conceito de liberdade. Os homens são dotados de consciência e
vontade. A necessidade é a condição e o fundamento da liberdade. Para ele, a
liberdade é impossível sem a necessidade. Se, ao agir, só posso contar com a
liberdade dos outros homens, ser-me-á impossível prever as consequências de
meus atos, uma vez que, a cada instante, o meu cálculo mais perfeito poderia
ser completamente frustrado pela liberdade de outrem e, por conseguinte,
poderia resultar de nossos atos algo muito distinto do que se havia previsto.
Agindo de maneira necessária, os homens podem, ao mesmo tempo, conservar plena
liberdade em seus atos. Um ato
necessário é um ato que um dado indivíduo não pode deixar de realizar em
circunstâncias determinadas; a impossibilidade está na natureza do indivíduo.
Eu sou livre quando posso agir como quiser.
G) A filosofia histórica de Hegel:
para este, é o Espírito ou a Ideia que constitui o fundo e como que a alma de
tudo o que existe; a própria matéria. Ela não passa de uma maneira do ser do
Espírito ou da Ideia. Assim, a História é apenas o desenvolvimento do Espírito
Universal no tempo. Os fatos são tomados tais como são, e o único pensamento
que ela, a inteligência, neles introduz é o pensamento de que a razão governa o
mundo. A razão que governa a história é uma razão inconsciente, é o conjunto de
leis que determinam o movimento histórico. A opinião é determinada pela maneira
de viver, pelo estado social. O Estado deve sua origem à luta dos pobres contra
os ricos. O estado social é a base mais profunda da vida dos povos. Sendo
assim, o Espírito é o móvel último do movimento histórico. Quando um povo passa
de um grau a outro grau de evolução, é que o Espírito Absoluto, de quem esse
povo é apenas agente, eleva-se a uma fase superior de seu desenvolvimento. Ai
nos deparamos com um ciclo vicioso, que
tenta explicar o estado social pelo estado das ideias e o estado das ideias
pelo estado social.
H) A concepção marxista da História:
aqui, as relações periódicas e as formas de Estado detêm suas raízes nas
condições materiais da existência. Mas, quais são as causas determinantes da
Sociedade Civil? É, pois, na economia política que devemos buscar a anatomia da
sociedade civil. É o Estado econômico de um povo que determina seu estado
social e este estado social determina o seu estado politico, religioso, etc.
Para Marx, todo movimento histórico é a luta que o homem trava com a natureza
para assegurar sua própria existência. O modo de produção da vida material
condiciona o processo de vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência
dos homens que lhes determina o ser, ao contrário, seu ser social determina sua
consciência. As ideias fundamentais de Marx se fundam sobre as relações de
produção que determinam todas as outras relações que existem entre os homens na
sua vida social. As relações de produção são determinadas, por sua vez, pelo
estado das forças produtivas. O estado das forças produtivas determina o
resultado da luta. Para mostrar isso, o filósofo considera que o homem é um
animal como os outros, mas a sua diferença é que ele fabrica armas,
instrumentos de trabalho. Assim, a transformação corporal do homem cessa, ou se
torna insignificante, para cede lugar a sua evolução técnica, e a evolução
técnica é a evolução das forças produtivas, e a evolução das forças produtivas
tem influencia decisiva sobre o agrupamento dos homens, sobre o estado de sua
cultura. Existe uma conexão entre a produção e o regime de propriedade e as
relações entre os homens durante o processo de produção que decidem as relações
de propriedade, do estado da propriedade.
II – Da concepção
materialista da História
A concepção materialista da História é
diferente de materialismo econômico. Materialismo econômico é aquele que
atribui ao fator econômico importância predominante na vida social.
O autor apresenta os conceitos de outros dois
pensadores: Loius Blanc e Roger. Para eles, o materialismo econômico não exclui
o idealismo histórico. Mas, para Labriola, suas concepções históricas são uma
contraposição direta ao idealismo histórico, apresentando a luta de classes
como luta de interesses materiais.
Com ele, cada ciência estuda a atividade do
ser social de maneira peculiar e cada uma delas é um fator do desenvolvimento
social. O fator histórico-social é uma abstração. Cada um dos fatores influi em
todos os outros, havendo uma reciprocidade, e isso leva à uma confusão que não
promove liberdade e autenticidade do estudo de um fato isolado. Por isso mesmo
se faz necessário a busca de um fator que seja a causa fundamental e primária
do surgimento do outro. Hegel aplicava a atividade do ser social pelas
propriedades do espírito universal.
Outra proposta é a concepção teleológica. Ela
fora tirada pelo materialismo dialético das ciências sociais. São os homens que
fazem a sua história não em direção ao absoluto, enrijecido, mas procurando
atender a necessidade e as ciências devem explicar como influem as diferentes
formas de satisfação dessas necessidades nas relações sociais dos homens na sua
atividade espiritual. As maneiras de satisfação são determinadas pelo estado
das forças produtivas.
Para os idealistas, as relações econômicas
são uma função da natureza humana e, os materialistas consideram essas relações
como uma função das forças produtivas da sociedade.
Aqui é explanado um pouco sobre o Darwinismo
Social, no qual o homem, em sua luta pela existência, precisa se adaptar-se ao
meio. As raças são resultados dessa adaptação direta ao meio natural. Além
disso, surge o meio artificial, ou meio social, como condição necessária de
qualquer progresso ulterior.
É o homem que faz sua história tentando
satisfazer suas necessidades. Evidentemente, essas necessidades são
determinadas em sua origem pela natureza; logo, porem, transforma-se de modo
considerável, quantitativa e qualitativamente, por influência do meio
artificial.
Do ponto de vista da moderna concepção
materialista da História, tudo assume um aspecto completamente diferente. Os
“fatores” históricos aparecem então como simples abstrações e, quando se
dissipa essa névoa, torna-se claro que os homens não fazem histórias isoladas
umas das outras - história do direito, história da moral, história da
filosofia, etc. – mas somente uma História: a de suas próprias relações
sociais, condicionadas em cada momento pelo estado das forças produtivas. O que
chamamos ideologias nada mais são do que reflexos variados no cérebro dos
homens dessa História única e indivisível.
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Plekhanov |
III – O papel do indivíduo na História
Para o materialismo histórico, o indivíduo
não possui um papel na história, ele sacrificava ao fator econômico todos os
demais e reduzia a zero à presença do indivíduo. Price diz que o materialismo é
incompatível com o conceito de liberdade e elimina toda iniciativa do
individuo.
Surge nesse período uma doutrina de cristãos
necessários que afirmavam o principio da vontade e negavam o livre arbítrio e
subordinavam o mundo à fatalidade. Aparece também o “quietismo”, doutrina que
coloca sua vontade nas mãos de Deus sem participar de qualquer religião. É
absolutamente para sua tranquilidade moral, o que a leva sempre,
apaixonadamente, a ocupar essa posição.
Assim, quando a consciência da falta de
liberdade de minha vontade se me apresenta unicamente sob a forma de uma
impossibilidade total, subjetiva ou objetiva, de proceder de modo diferente ao
que procedo, e quando minhas ações são para mim, ao mesmo tempo, as mais
desejáveis entre todas as possíveis, nesse caso a necessidade se identifica em
minha consciência com a liberdade, e a liberdade com a necessidade; não posso
opor uma à outra; não posso sentir-me travado pela necessidade. Assim, como
Simel já dizia: “a liberdade é sempre liberdade em relação a alguma coisa”.
A liberdade é a necessidade de consciência e
a consciência da liberdade absoluta de um fenômeno só pode aumentar a energia
do homem que simpatiza com ele e que se considera a si próprio uma das forças
que originam esse fenômeno. Hegel já afirmava: “a liberdade não é mais do que a
afirmação de si mesmo”.
Já o Sr. Kareiev e todos os subjetivistas
sempre atribuíram ao indivíduo um papel muito importante na História. Porém,
seus adversários fazem de tudo para rebaterem essas proposições.
Os acontecimentos e as personagens
verdadeiramente importantes são principalmente sinais e símbolos das diferentes
etapas dessa evolução, mas a maioria dos acontecimentos chamados históricos
são, para a verdadeira História, o que, para o movimento profundo e constante
das marés, são as ondas que surgem à superfície do mar, brilham por um momento
com sua luz viva para logo quebrarem-se na costa arenosa, desaparecendo se
deixar vestígio.
O homem pode, na verdade, em todos os
momentos, por uma súbita decisão de sua vontade, introduzir nos acontecimentos
de que participa uma força nova, inesperada e variável, capaz de modificar-
lhes poderosamente o curso mas que, não obstante, não se presta a ser medida,
devido à sua variabilidade.
Desse modo, as particularidades individuais
das personalidades eminentes determinam o aspecto individual dos acontecimentos
históricos, e o elemento casual, no sentido que indicamos, desempenha sempre
certo papel no curso desses acontecimentos, cuja orientação é determinada, em
última instância, pelas chamadas causas gerais, isto é, de fato, pelo desenvolvimento
das forças produtivas e das relações mútuas entre os homens no processo
econômico-social da produção, que aquele determina. As relações sociais têm sua
lógica: enquanto os homens se encontrarem em determinadas relações mútuas,
necessariamente sentirão, pensarão e atuarão assim e não de modo diverso.
Monod supõe que os acontecimentos e
indivíduos verdadeiramente importantes na História somente são importantes como
sinais e símbolos do desenvolvimento das instituições e das condições
econômicas. É um pensamento acertado, embora sua formulação seja muito
imprecisa. Mas, exatamente porque seu pensamento, não se justifica opor a
atividade dos grandes homens “ao movimento lento” das referidas condições e
instituições. Ele sempre exige a intervenção dos homens, diante dos quais
surgem, assim, os grandes problemas sociais.
Os grandes homens tem aberto diante de si um
amplo campo de ação, mas todos os que têm olhos para ver, ouvidos para ouvir e
coração para amor o próximo. O conceito de grande é relativo. No sentido moral
é grande todo aquele que, como diz a expressão evangélica, “sacrifica sua vida
pelo próximo’’.
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