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segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Resumo da obra “O papel do indivíduo na História”, de Plekhanov.


Resumo da obra “O papel do indivíduo na História”, de Plekhanov.
O livro é dividido em três partes e tem como finalidade explicar o papel do indivíduo no decorrer da História e quais as contribuições que ele forneceu para que esta fosse feita, escrita. Não me refiro aqui aos registros, mas as ações e pessoas registradas.
            Os dois primeiros capítulos se encaminham para a explicação ou tentativa de exposição de um panorama do que se compreendia como Filosofia da História, com a apresentação de diversos escritores da época e as divergências e congruências entre eles.
O autor pertence à primeira geração dos marxistas russos e foi o principal propagandista do materialismo histórico e dialético (cânon da proposta histórica de Karl Marx, onde a consciência do homem provém das suas relações de produção). Enfrentou a corrente economicista, que limitava a tarefa das classes operárias à luta econômica por aumento de salários e melhorias das condições de trabalho.
Quanta ironia vê-se na vida deste autor, pois aquele quem melhor esclareceu o papel do indivíduo nas transformações históricas, não apoiou a maior transformação de sua época.
Ele foi, ainda, aquele que fez a melhor exposição do marxismo e do materialismo histórico. O que há de melhor na literatura internacional acerca deste assunto é feita por ele, como atestam vários outros autores, como Lennin.
Qual é então o papel do indivíduo na História? A História decorre em função de leis objetivas, mas são os homens que fazem a História, fazem-na avançar ou atrasam-na consideravelmente na medida em que atuam ou não em função dessas leis. Sem os indivíduos não há revolução, mudança. E, de uma maneira ou de outra, todos os indivíduos participam do desenvolvimento histórico da humanidade.
O autor, segundo a defesa marxista que prega o modo de produção econômica da existência dos homens como determinante da sua organização em sociedade, convenciona-se ao socialismo como uma possibilidade histórica e objetiva na medida em que os revolucionários o assumem com vontade e ação consciente.

I – Da filosofia da História
            A História é movimento e cada período tem sua própria filosofia da História, que é a reflexão filosófica sobre um determinado momento passado. Durante os séculos surgiram alguns tipos de concepções da à cerca dessa reflexão, dentre elas:
A)   A concepção teológica da História: se detêm naquilo que o homem vê na natureza; marcada pelo animismo; é a explicação da História pela ação direta ou indireta de uma divindade. Seus maiores influentes, Santo Agostinho e Bouset, acreditam que, tudo só acontece com a permissão de Deus e, as revoluções dos ímpios são reguladas pela providência, respectivamente.  Ela perde credito porque a ciência ganha espaço. Porem, a verdadeira ciência consiste em estudar as causas das mudanças procuradas em cada época. Grandes necessidades de estudar as causas partículas dos acontecimentos, eis o papel das ciências.
B)   A concepção idealista da História: consiste em explicar esta evolução histórica pela evolução dos costumes e das ideias ou opiniões ou da opinião. A opinião governa o mundo e é a causa fundamental, mais profunda do movimento histórico. Seu grande representante é Voltaire. Ele se atém ao histórico e a sua filosofia da história é uma interpretação científica da História. Holbach e Helvitus, ambos materialistas, acreditavam que a opinião governava o mundo e que sua evolução explica toda a evolução histórica e que a ignorância é a causa do mal moral e político. A ignorância é uma opinião errônea. Essa concepção é verdadeira e inválida simultaneamente. Verdadeira porque há uma parte de verdade, pois a opinião tem grande ifluência sobre os homens. Locke contribui com a negação da existência das ideias inatas, afirmando que as ideias e os princípios dos homens provêm da experiência. Quando os homens condenam determinada ação é porque ela os prejudica. Quando a enaltecem, é porque lhe é útil. Não existem ideias inatas no espírito dos homens; é a experiência que determina as ideias especulativas e é o interesse social que determina as ideias práticas.
C)   Pós Revolução Francesa: aconteceu a destruição do antigo regime e o varrimento dos seus vestígios, sobrando a lassidão e o ceticismo, descredito de todas as doutrinas e do próprio indivíduo.
D)   A Filosofia da História de Saint-Simon: ela se propõe em estudar os fatos relativos à vida passada da humanidade para descobrir as leis do progresso e poder prever o futuro compreendendo o que fora vivido. Aqui, o interesse histórico leva a concepção histórica, o interesse dos grandes elementos constitutivos da sociedade.
E)   Augustin Thierry e de Mignet: sempre o povo e os cidadãos – a grande massa -, são a matéria para o pensamento de um só homem, o grande homem, o herói. A massa age segundo seus interesses. O interesse é a fonte, o móvel de toda criação social. É fácil compreender, pois, que, quando uma instituição se opõe ao interesse da massa, esta começa a lutar contra tal instituição. E, como uma instituição prejudicial à massa do povo é amiúde útil à classe privilegiada. A luta das classes entre homens e interesses opostos desempenha um grande papel na filosofia da História. Com Mignet, os interesses decidem o movimento social. Algo era necessário antes de se tornar fato, e foi depois um fato, deixando de ser necessário, terminando por deixar de ser um fato. Não só os homens que conduzem as coisas são as coisas que conduzem os homens. A força que domina se apodera sempre das instituições. Pois, antes de se transformarem em causa, as instituições são efeito; a sociedade as produz antes de ser modificada por elas; e, em lugar de buscar no sistema ou nas formas de governo qual era o estado do povo, é necessário examinar primeiro o estado do povo para saber qual devia ser ou qual pode ser o governo.
F)   A filosofia histórica de Schelling: aqui aparece o conceito de liberdade. Os homens são dotados de consciência e vontade. A necessidade é a condição e o fundamento da liberdade. Para ele, a liberdade é impossível sem a necessidade. Se, ao agir, só posso contar com a liberdade dos outros homens, ser-me-á impossível prever as consequências de meus atos, uma vez que, a cada instante, o meu cálculo mais perfeito poderia ser completamente frustrado pela liberdade de outrem e, por conseguinte, poderia resultar de nossos atos algo muito distinto do que se havia previsto. Agindo de maneira necessária, os homens podem, ao mesmo tempo, conservar plena liberdade em seus atos.  Um ato necessário é um ato que um dado indivíduo não pode deixar de realizar em circunstâncias determinadas; a impossibilidade está na natureza do indivíduo. Eu sou livre quando posso agir como quiser.
G)   A filosofia histórica de Hegel: para este, é o Espírito ou a Ideia que constitui o fundo e como que a alma de tudo o que existe; a própria matéria. Ela não passa de uma maneira do ser do Espírito ou da Ideia. Assim, a História é apenas o desenvolvimento do Espírito Universal no tempo. Os fatos são tomados tais como são, e o único pensamento que ela, a inteligência, neles introduz é o pensamento de que a razão governa o mundo. A razão que governa a história é uma razão inconsciente, é o conjunto de leis que determinam o movimento histórico. A opinião é determinada pela maneira de viver, pelo estado social. O Estado deve sua origem à luta dos pobres contra os ricos. O estado social é a base mais profunda da vida dos povos. Sendo assim, o Espírito é o móvel último do movimento histórico. Quando um povo passa de um grau a outro grau de evolução, é que o Espírito Absoluto, de quem esse povo é apenas agente, eleva-se a uma fase superior de seu desenvolvimento. Ai nos deparamos com um ciclo vicioso,  que tenta explicar o estado social pelo estado das ideias e o estado das ideias pelo estado social.
H)   A concepção marxista da História: aqui, as relações periódicas e as formas de Estado detêm suas raízes nas condições materiais da existência. Mas, quais são as causas determinantes da Sociedade Civil? É, pois, na economia política que devemos buscar a anatomia da sociedade civil. É o Estado econômico de um povo que determina seu estado social e este estado social determina o seu estado politico, religioso, etc. Para Marx, todo movimento histórico é a luta que o homem trava com a natureza para assegurar sua própria existência. O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que lhes determina o ser, ao contrário, seu ser social determina sua consciência. As ideias fundamentais de Marx se fundam sobre as relações de produção que determinam todas as outras relações que existem entre os homens na sua vida social. As relações de produção são determinadas, por sua vez, pelo estado das forças produtivas. O estado das forças produtivas determina o resultado da luta. Para mostrar isso, o filósofo considera que o homem é um animal como os outros, mas a sua diferença é que ele fabrica armas, instrumentos de trabalho. Assim, a transformação corporal do homem cessa, ou se torna insignificante, para cede lugar a sua evolução técnica, e a evolução técnica é a evolução das forças produtivas, e a evolução das forças produtivas tem influencia decisiva sobre o agrupamento dos homens, sobre o estado de sua cultura. Existe uma conexão entre a produção e o regime de propriedade e as relações entre os homens durante o processo de produção que decidem as relações de propriedade, do estado da propriedade.

 II – Da concepção materialista da História
A concepção materialista da História é diferente de materialismo econômico. Materialismo econômico é aquele que atribui ao fator econômico importância predominante na vida social.
O autor apresenta os conceitos de outros dois pensadores: Loius Blanc e Roger. Para eles, o materialismo econômico não exclui o idealismo histórico. Mas, para Labriola, suas concepções históricas são uma contraposição direta ao idealismo histórico, apresentando a luta de classes como luta de interesses materiais.
Com ele, cada ciência estuda a atividade do ser social de maneira peculiar e cada uma delas é um fator do desenvolvimento social. O fator histórico-social é uma abstração. Cada um dos fatores influi em todos os outros, havendo uma reciprocidade, e isso leva à uma confusão que não promove liberdade e autenticidade do estudo de um fato isolado. Por isso mesmo se faz necessário a busca de um fator que seja a causa fundamental e primária do surgimento do outro. Hegel aplicava a atividade do ser social pelas propriedades do espírito universal.
Outra proposta é a concepção teleológica. Ela fora tirada pelo materialismo dialético das ciências sociais. São os homens que fazem a sua história não em direção ao absoluto, enrijecido, mas procurando atender a necessidade e as ciências devem explicar como influem as diferentes formas de satisfação dessas necessidades nas relações sociais dos homens na sua atividade espiritual. As maneiras de satisfação são determinadas pelo estado das forças produtivas.
Para os idealistas, as relações econômicas são uma função da natureza humana e, os materialistas consideram essas relações como uma função das forças produtivas da sociedade.
Aqui é explanado um pouco sobre o Darwinismo Social, no qual o homem, em sua luta pela existência, precisa se adaptar-se ao meio. As raças são resultados dessa adaptação direta ao meio natural. Além disso, surge o meio artificial, ou meio social, como condição necessária de qualquer progresso ulterior.
É o homem que faz sua história tentando satisfazer suas necessidades. Evidentemente, essas necessidades são determinadas em sua origem pela natureza; logo, porem, transforma-se de modo considerável, quantitativa e qualitativamente, por influência do meio artificial.
Do ponto de vista da moderna concepção materialista da História, tudo assume um aspecto completamente diferente. Os “fatores” históricos aparecem então como simples abstrações e, quando se dissipa essa névoa, torna-se claro que os homens não fazem histórias isoladas umas das outras - história do direito, história da moral, história da filosofia, etc. – mas somente uma História: a de suas próprias relações sociais, condicionadas em cada momento pelo estado das forças produtivas. O que chamamos ideologias nada mais são do que reflexos variados no cérebro dos homens dessa História única e indivisível.

Plekhanov
  
III – O papel do indivíduo na História
Para o materialismo histórico, o indivíduo não possui um papel na história, ele sacrificava ao fator econômico todos os demais e reduzia a zero à presença do indivíduo. Price diz que o materialismo é incompatível com o conceito de liberdade e elimina toda iniciativa do individuo.
Surge nesse período uma doutrina de cristãos necessários que afirmavam o principio da vontade e negavam o livre arbítrio e subordinavam o mundo à fatalidade. Aparece também o “quietismo”, doutrina que coloca sua vontade nas mãos de Deus sem participar de qualquer religião. É absolutamente para sua tranquilidade moral, o que a leva sempre, apaixonadamente, a ocupar essa posição.
Assim, quando a consciência da falta de liberdade de minha vontade se me apresenta unicamente sob a forma de uma impossibilidade total, subjetiva ou objetiva, de proceder de modo diferente ao que procedo, e quando minhas ações são para mim, ao mesmo tempo, as mais desejáveis entre todas as possíveis, nesse caso a necessidade se identifica em minha consciência com a liberdade, e a liberdade com a necessidade; não posso opor uma à outra; não posso sentir-me travado pela necessidade. Assim, como Simel já dizia: “a liberdade é sempre liberdade em relação a alguma coisa”.
A liberdade é a necessidade de consciência e a consciência da liberdade absoluta de um fenômeno só pode aumentar a energia do homem que simpatiza com ele e que se considera a si próprio uma das forças que originam esse fenômeno. Hegel já afirmava: “a liberdade não é mais do que a afirmação de si mesmo”.
Já o Sr. Kareiev e todos os subjetivistas sempre atribuíram ao indivíduo um papel muito importante na História. Porém, seus adversários fazem de tudo para rebaterem essas proposições.
Os acontecimentos e as personagens verdadeiramente importantes são principalmente sinais e símbolos das diferentes etapas dessa evolução, mas a maioria dos acontecimentos chamados históricos são, para a verdadeira História, o que, para o movimento profundo e constante das marés, são as ondas que surgem à superfície do mar, brilham por um momento com sua luz viva para logo quebrarem-se na costa arenosa, desaparecendo se deixar vestígio.
O homem pode, na verdade, em todos os momentos, por uma súbita decisão de sua vontade, introduzir nos acontecimentos de que participa uma força nova, inesperada e variável, capaz de modificar- lhes poderosamente o curso mas que, não obstante, não se presta a ser medida, devido à sua variabilidade.
Desse modo, as particularidades individuais das personalidades eminentes determinam o aspecto individual dos acontecimentos históricos, e o elemento casual, no sentido que indicamos, desempenha sempre certo papel no curso desses acontecimentos, cuja orientação é determinada, em última instância, pelas chamadas causas gerais, isto é, de fato, pelo desenvolvimento das forças produtivas e das relações mútuas entre os homens no processo econômico-social da produção, que aquele determina. As relações sociais têm sua lógica: enquanto os homens se encontrarem em determinadas relações mútuas, necessariamente sentirão, pensarão e atuarão assim e não de modo diverso.
Monod supõe que os acontecimentos e indivíduos verdadeiramente importantes na História somente são importantes como sinais e símbolos do desenvolvimento das instituições e das condições econômicas. É um pensamento acertado, embora sua formulação seja muito imprecisa. Mas, exatamente porque seu pensamento, não se justifica opor a atividade dos grandes homens “ao movimento lento” das referidas condições e instituições. Ele sempre exige a intervenção dos homens, diante dos quais surgem, assim, os grandes problemas sociais.

Os grandes homens tem aberto diante de si um amplo campo de ação, mas todos os que têm olhos para ver, ouvidos para ouvir e coração para amor o próximo. O conceito de grande é relativo. No sentido moral é grande todo aquele que, como diz a expressão evangélica, “sacrifica sua vida pelo próximo’’.

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